O PAPEL DA NEUROCIÊNCIA NO FUTURO DO TRABALHO: Habilidades, Tecnologia e Bem-estar
- Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
- Aug 5
- 6 min read

🧠 O que é o “futuro do trabalho”?
O mundo está mudando em ritmo acelerado. Automação, inteligência artificial, modelos de trabalho remoto e híbrido, burnout em alta e um novo olhar sobre o que é qualidade de vida estão transformando a forma como vivemos e produzimos.
Diante desse cenário de mudanças e de adaptabilidade constante, como o nosso cérebro está lidando com tudo isso?
A questão da mudança implica também na economia e criação de mão de obra (nós humaninhos) especializada para atender esse mercado em constante evolução. Mais do que explicar o ser humano e o funcionamento do cérebro, a neurociência pode ajudar pessoas e organizações a entender como nosso sistema nervoso reage a mudanças, estresse, sobrecarga e aprendizagem.
E, principalmente, pode guiar escolhas mais humanas, inteligentes e sustentáveis.
🔍 1. O que é o “futuro do trabalho”?

O chamado “futuro do trabalho” não é uma realidade distante — ele já está em curso. Refere-se às transformações trazidas por:
Avanço das tecnologias digitais e da automação
Mudanças nos formatos de trabalho (remoto, freelancer, gig economy)
Valorização crescente das soft skills
Demanda por aprendizagem contínua
Diversidade, inclusão e bem-estar como prioridades corporativas
As habilidades consideradas essenciais mudaram: empatia, colaboração, pensamento crítico, autorregulação emocional e criatividade passaram a ter tanto ou mais valor que o conhecimento técnico puro.
A capacidade de se adaptar ou adaptar a um novo ambiente é algo que, mais do que nunca, estamos tendo que recuperar como habilidade — para somá-la às já citadas e nos tornarmos senhores do nosso próprio destino.
É a diferença entre o ser humano utilizar suas capacidades biológicas para desenvolver as tecnologias* que permitem que mudanças ocorram.
*Entende-se aqui, por tecnologia, qualquer objeto, método ou conhecimento que permite resolução de um problema de forma mais rápida. Pode ser desde uma pedra até um drone.
Dominar a inteligência emocional é o que beneficiará os relacionamentos, a sociedade, o ambiente, a comunicação — enfim, o contexto geral da humanidade — para que os novos modelos de trabalho tenham sucesso.
Com todo o conhecimento que temos adquirido, estamos trilhando um caminho que não tem mais volta: o caminho para o “futuro do trabalho”.
E esse trabalho não é ruim, mas exige mudanças. É a evolução do trabalho — alguns empregos podem deixar de existir para que outros surjam. Mas isso não quer dizer que uma habilidade está se tornando obsoleta; ela está, na verdade, evoluindo.
🧩 2. Como o cérebro se adapta a novas exigências

A chave para enfrentar essas mudanças está na neuroplasticidade — a capacidade do sistema nervoso de modificar sua função ou sua estrutura em resposta às influências que o atingem.
As mudanças em curso constante que vivenciamos fazem com que nosso corpo também esteja em constante adaptação. E é a aquisição, armazenamento e capacidade de reter todas essas novas informações pelo nosso cérebro que chamamos de neuroplasticidade.
Antigamente, acreditava-se que era impossível aprender novas habilidades após a vida adulta. Contudo, foi descoberto que nosso cérebro é capaz de aprender e reaprender tarefas, realocando neurônios em “desuso” para essas novas atividades.
Esse processo envolve diversos circuitos do sistema nervoso. Para que essa realocação aconteça, o córtex pré-frontal, o hipocampo e o cerebelo, em especial, precisam estar envolvidos.
A neuroplasticidade acontece por meio de:
motivação
método e prática
atenção
vontade de mudar
Ou seja, através de aprendizado e memória.
A assimilação ao novo e a prática são o que permitem a diferenciação diante das novas exigências e inovações do mercado — e isso é possível.
A motivação é a aptidão fundamental para que a neuroplasticidade funcione. É ela que guia nossas atitudes, favorecendo ou prejudicando o processo de aprendizagem.
A busca por drivers motivacionais extrínsecos (baseados no estímulo de prazer e dor) e intrínsecos (busca interna por desafios, o frio na barriga) ativa também o sistema de recompensa e estimula o aprendizado de forma mais relevante.
Novos contextos exigem novas sinapses, novos aprendizados — e também resiliência cerebral.
Mas isso não acontece sem custo: nosso cérebro prefere previsibilidade. Mudanças constantes, incertezas e pressão são interpretadas como ameaças, o que pode levar ao aumento da atividade da amígdala cerebral e à ativação de respostas de estresse crônico.
Desenvolver a inteligência emocional — incluindo o autogerenciamento e a autoconsciência — pode ser essencial para a vida profissional. Essas habilidades estão ligadas ao funcionamento da amígdala nas decisões de como lutar ou fugir. E se a amígdala é “sequestrada” em situações de estresse (especialmente no ambiente de trabalho), isso tende a ter efeitos negativos nas decisões e nos relacionamentos.
Por isso, procure por ambientes que estimulem a curiosidade, a exploração segura e o mindset de crescimento — pois tendem a favorecer adaptação e inovação.
👥 3. Neurociência das habilidades humanas

A neurociência tem muito a dizer sobre as habilidades mais em alta hoje:
Empatia e colaboração
Envolvem redes cerebrais sociais (como o córtex pré-frontal medial e a ínsula)
Ativam neurônios-espelho e o sistema de recompensa quando colaboramos
Tomada de decisão ética
Depende do córtex pré-frontal dorsolateral e da regulação emocional
Escolhas éticas ativam áreas ligadas à perspectiva e à empatia
Liderança inspiradora
Conectada à liberação de ocitocina, dopamina e sentimentos de pertencimento
Um bom líder sabe regular as próprias emoções e criar segurança psicológica
Porém, não se limite a essas três habilidades. Não descarte competências antigas para priorizar apenas as tendências. Expandir seu leque de possibilidades é o que vai lhe diferenciar no mercado.
A natureza humana é ativa e busca satisfação pessoal. Então, busque e demonstre:
Autonomia: uma pesquisa com empresários de Málaga (Espanha) mostrou que eles estão 61% mais propensos a contratar pessoas que desejam ser independentes, devido ao seu maior engajamento.
Maestria: o ser humano busca atenção e também superar-se. Ser melhor em algo, conquistar e encontrar satisfação no trabalho é um diferencial de mercado.
Propósito: demonstre vontade de fazer algo a mais, algo maior. Organizações valorizam pró-atividade e engajamento.
💻 4. Cérebro, tecnologia e cognição

A tecnologia trouxe agilidade, mas também desafios cognitivos:
🧠 O cérebro humano não foi feito para multitarefas constantes.
Estudos indicam que 98% da população não é eficiente em multitarefas — e que essa prática pode reduzir a produtividade em até 40% se não houver autorregulação.
O fato de conseguir mexer no celular e beber café ao mesmo tempo não faz de alguém multitarefas.O cérebro é um órgão processador sequencial, que executa uma tarefa por vez.
🔔 Notificações e excesso de informação reduzem foco, memória e produtividade.
O cérebro não consegue processar tudo ao redor de uma só vez — o excesso de estímulos pode causar desorientação e cansaço mental.
⚠️ A sobrecarga mental ativa circuitos de estresse e prejudica a tomada de decisão.
Muitas vezes causada pela falta de organização, a sobrecarga impacta diretamente na clareza, produtividade e bem-estar.
O cérebro prefere padrões, rotinas e previsibilidade. Planejar o dia-a-dia com alinhamento aos objetivos pessoais reduz o estresse e prepara o corpo biologicamente para as tarefas.
💡 Designs digitais alinhados à neurociência (foco, pausas, simplicidade) podem tornar o trabalho mais eficiente e menos desgastante.
💼 5. Ambientes de trabalho neurointeligentes

Um ambiente de trabalho “neurofriendly” considera o funcionamento cerebral do colaborador. Isso inclui:
1. Ritmos circadianos e ciclos de energia
Ambientes bem arejados e com luz natural regulam o ciclo circadiano e a produção natural de cortisol (hormônio da energia) para ter um corpo mais alerta e ativo.
2. Espaços de foco profundo e espaços de socialização
O ambiente de trabalho ideal precisa ter:
Luz natural (se não puder, opte por luz branca/neutra)
Mobiliário ajustável - mantém boa postura evitando dores e lesões e aumentando produtividade e conforto
Cores despertam diferentes estímulos: claras (concentração), quentes (criatividade), pastéis (leveza)
Ambientes organizados e limpos – facilita a rotina e evita distrações
Plantas e elementos naturais – cria a sensação de tranquilidade e bem-estar
3. Pausas cognitivas e bem-estar mental
Incentivo a práticas de descompressão:
pausas regulares
atividades manuais
integração social
ginástica laboral
🏢 Exemplos práticos: empresas como Google, SAP e Natura já adotam estratégias baseadas em neurociência — como mindfulness, design de espaços e treinamentos em empatia.
✅ Conclusão

O futuro do trabalho está profundamente ligado à compreensão do funcionamento cerebral. Afinal, é o cérebro que trabalha, não é?
A neurociência mostra que um ambiente de alta performance é aquele que respeita os ritmos, limites e potencialidades do cérebro humano.
A liderança do futuro não será a mais técnica, mas a mais empática e adaptável — sem perder sua autoridade.
Investir em neurociência não é um luxo.É uma estratégia inteligente para construir organizações mais humanas, saudáveis e inovadoras.
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