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NEUROPLASTICIDADE: O superpoder do cérebro

  • Writer: Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
    Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
  • Aug 12
  • 6 min read
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💡 Neuroplasticidade: o superpoder invisível do cérebro


Se eu te dissesse que o seu cérebro é capaz de se transformar todos os dias, você acreditaria?


Por muito tempo, acreditou-se que, depois de uma certa idade, o cérebro ficava “pronto” e imutável — um mito que a ciência derrubou com força.


Hoje sabemos que o cérebro é um órgão dinâmico, adaptável e em constante mudança. Esse fenômeno tem nome: neuroplasticidade — a capacidade do sistema nervoso de modificar sua estrutura e funcionamento em resposta à experiência, ao aprendizado e até a lesões.


🧠 1. O que é neuroplasticidade?


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De forma simples, neuroplasticidade é a habilidade do cérebro de criar, fortalecer, enfraquecer ou reorganizar conexões entre neurônios (sinapses) ao longo da vida.


Isso significa que cada nova habilidade aprendida, cada desafio enfrentado, uma nova adaptação a ser feita ou mesmo cada hábito repetido deixa marcas físicas no seu cérebro. Ele está o tempo todo redesenhando seus próprios circuitos para se adaptar às demandas do momento.


A neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro permite à mudança de hábitos – tanto para o bem quanto para o mal. Isso acontece em nível celular através do reforço de um neurônio que não estava sendo usado, pouco usado ou por um novo neurônio, que cria a troca de cargas energéticas entre ele e outro neurônio responsável para que tal comportamento aconteça de forma mais regular que o normal, para que esse “caminho” fique demarcado.


Uma vez que esse caminho ficou demarcado, esse hábito dificilmente é alterado. Vai exigir muito esforço mental e pessoal, e vai novamente depender das mesmas estruturas e reestruturação neuronal.


📌 Definição científica: “Neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso de mudar sua atividade em resposta a estímulos internos ou externos, reorganizando sua estrutura, funções ou conexões.” (Pascual-Leone et al., 2005)


🔬 2. Como ela acontece?



A neuroplasticidade ocorre principalmente por quatro mecanismos:


1.       Fortalecimento sináptico – quanto mais uma via neural é utilizada, mais forte e eficiente ela se torna, tornando-se um hábito.


2.       Poda sináptica – conexões pouco usadas são enfraquecidas ou eliminadas. Desde que somos bebês, desenvolvemos diversas conexões neurais, mas com o tempo, o organismo percebe que há várias conexões que não são importantes, então ocorre a poda, liberando recursos para outras funções.


3.       Neurogênese – é a geração e desenvolvimento de novos neurônios, que, em sua maioria, não sobrevivem, em algumas regiões do sistema nervoso central (SNC), como o hipocampo. Antes acreditava-se que não era possível gerar novos neurônios ao longo da vida.


4.       Sinaptogênese – produção de sinapses, unidades de integração entre as células nervosas; esse processo de conexão neural inicia ao nascer e precisa de estímulos vindos do meio social.


💡 Pense no cérebro como uma cidade: ruas movimentadas ficam cada vez mais largas e bem pavimentadas, enquanto caminhos pouco usados desaparecem ou mudam de direção.


🚀 3. Por que é um “superpoder”?


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Ter a capacidade de aprender novas tecnologias, mudar e adaptar-se a novas culturas, reabilitar-se fisicamente, mudar padrões. Esses são alguns dos superpoderes que a neuroplasticidade deu aos mamíferos.


Além dos tradicionais benefícios da neuroplasticidade já citados anteriormente, o pulo do gato é quando o cérebro tem de se readaptar às novas realidades quando somos impostos a tal, incluindo, infelizmente, eventos também traumáticos.


A neuroplasticidade é um fenômeno que permite que novos aprendizados sejam absorvidos em todos os sentidos de adaptação e readaptação, quando necessário oferece a capacidade de restabelecimento – ou a cura em algumas situações.

 

Como a neuroplasticidade ajuda no restabelecimento:


  • Reconectando caminhos neurais:


A neuroplasticidade permite que indivíduos redefinam o formato do seu cérebro e as suas conexões cerebrais. Isso pode envolver o colapso de áreas afetadas por um trauma ou “colapsar caminhos” dos hábitos antigos para que novos caminhos sejam criados para a promoção da regulação emocional, consolidação da memória e o bem-estar geral.


  • Construindo resiliência:


Ao engajar em práticas que promovam a neuroplasticidade, como meditação, terapia e tarefas que tenham significado, as pessoas desenvolvem resiliência e mecanismos de resistência para lidar melhor com eventos traumáticos.


  • Reforço do córtex pré-frontal:


Principalmente através da terapia, é possível “malhar” os caminhos neurais do córtex pré-frontal, o qual é responsável pelos pensamentos racionais e as tomadas de decisões, novamente ajudando na regulação emocional, mas mais ainda dando maior controle emocional.


  • Melhorando as funções do hipocampo:


Ao promover as atividades neuroplásticas cerebrais, também se melhoram as capacidades funcionais do hipocampo, melhorando assim a memória, aprendizado e a habilidade de processar e internalizar as memórias de um evento traumático.


  • Reensinando a amígdala:


Através de intervenções terapêuticas, é possível ajudar a amígdala a se tornar menos reativa aos gatilhos e estressores, reduzindo a ansiedade e as respostas ao medo.


  • Reorganização física:


Com as terapias adequadas, é através da neuroplasticidade que o corpo se reorganiza para lidar com a falta de um membro, com a perda da função de algum órgão ou trauma. A neuroplasticidade promove a criação de novos hábitos e a readequação à realidade que o indivíduo irá perseguir pelo resto da vida.

 

Enfim, em resumo, essa capacidade permite que você aprenda novas habilidades, mesmo na vida adulta; supere traumas e reabilite funções após lesões cerebrais; adapte-se a mudanças no trabalho, nos relacionamentos e na vida; e mude padrões de pensamento e comportamento prejudiciais. 


📚 4. Aplicações práticas para você usar e abusar da neuroplasticidade hoje


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A neuroplasticidade está por trás de avanços incríveis, e você pode usar e abusar dela para desenvolver mais habilidades, mudar hábitos seus que você acredita não valerem mais a pena, ou ainda adicionar aqueles que você acha que vale a pena:

 

  • Aprendizagem

    • Vá em frente e aprenda um novo idioma!

    • Aprenda a tocar um instrumento! Isso, além de criar a neuroplasticidade, irá desenvolver o seu sistema neuromotor.

    • Volte a estudar! Qualquer coisa... por exemplo, reveja o que um dia já estudou e veja o que tem de novo.

    • Capacite-se, ainda mais profissionalmente! Hoje em dia a internet e o conhecimento estão mudando na velocidade da luz, e o diferencial é poder estar no cometa ao lado.

  • Reabilitação neurológica

    • Faça atividades regulares da fala, brincadeiras como trava-línguas ou cantar músicas inteiras, isso mantém sua mente saudável e com a capacidade de comunicação em dia (não só o dedo, né).

    • Brinque!!! Jogo da memória, batalha naval, damas, xadrez, 7 erros, palavras cruzadas... nossa, pensa em jogos que mantêm a mente ativa, saudável, para se divertir e que, de quebra, geram neuroplasticidade? Os jogos de tabuleiro e atividades que exijam um mínimo de raciocínio (aquelas da época dos avós e dos pais) deixam o cérebro tinindo. (E se alguém tiver tido algum tipo de trauma como AVC ou traumatismo, essas são atividades-chave para esses pacientes).

  • Saúde mental

    • Faça terapia, faça terapia, faça terapia!! Posso parecer insistente, mas um psicólogo/terapeuta sabe tratar seus gatilhos, mesmo quando você acha que não tem. A saúde do cérebro é a saúde do seu corpo e vice-versa. As emoções precisam ser tratadas e não escondidas 😉


❌ 5. Mini FAQ com Mitos e Verdade


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FAQ: “O cérebro para de mudar depois da infância.”

MITO!!

✅ Verdade: ele continua plástico por toda a vida, embora a velocidade e a facilidade de mudança diminuam.


FAQ: “A neuroplasticidade acontece todos os dias”

✅ Verdade: a neuroplasticidade está acontecendo a todo momento em que há algum tipo de prática diferente daquela que o indivíduo está acostumado, e isso pode ser apenas o jeito diferente de pegar um copo. Então a neuroplasticidade não está restrita a grandes mudanças, mas a toda e qualquer pequeno desvio de hábito.


FAQ: “Basta pensar positivo para mudar o cérebro.”

MITO!!

✅ Verdade: mudanças duradouras exigem prática consistente e experiências reais, não só pensamento.


FAQ: “Neuroplasticidade é sempre boa.”

MITO!!

✅ Verdade: hábitos ruins e pensamentos disfuncionais também reforçam conexões neurais.

 

✅ Conclusão


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A neuroplasticidade é um lembrete poderoso: você nunca está “preso” a quem é hoje.


Seu cérebro é maleável, e cada ação, pensamento ou experiência é uma oportunidade para moldar quem você pode se tornar.


O “superpoder” já está aí dentro — basta aprender a usá-lo. 





📖 Referências• Pascual-Leone, A., et al. (2005). The plastic human brain cortex. Annual Review of Neuroscience, 28, 377–401.• Kolb, B., & Gibb, R. (2011). Brain plasticity and behaviour in the developing brain. Journal of the Canadian Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 20(4), 265–276.• Merzenich, M. M. (2013). Soft-wired: How the new science of brain plasticity can change your life. San Francisco: Parnassus Publishing.

✅ ConclusãoA neuroplasticidade é um lembrete poderoso: você nunca está “preso” a quem é hoje. Seu cérebro é maleável, e cada ação, pensamento ou experiência é uma oportunidade para moldar quem você pode se tornar.O “superpoder” já está aí dentro — basta aprender a usá-lo.

 
 
 

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