NEUROCIÊNCIA DA EMPATIA E COMUNICAÇÃO: Como Entender Melhor o Outro
- Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
- Aug 21
- 4 min read

🧠 Neurociência da Empatia e Comunicação: Como entender melhor o outro
Empatia e comunicação são dois pilares fundamentais da vida humana. No trabalho, nas relações pessoais ou mesmo na forma como aprendemos, a capacidade de compreender e ser compreendido faz toda a diferença. Mas o que a neurociência tem a ver com isso? Mais do que imaginamos.
A ciência do cérebro mostra que tanto a empatia quanto a comunicação não são apenas “habilidades sociais”, mas funções profundamente enraizadas no nosso sistema nervoso. Entender como elas funcionam ajuda a transformar a maneira como nos relacionamos e a fortalecer conexões mais verdadeiras.
🧪 O cérebro da empatia

Quando falamos de empatia, estamos falando de um circuito neural que nos permite sentir o que o outro sente e interpretar suas intenções. O córtex pré-frontal medial é uma peça-chave nesse processo, ajudando a decifrar pensamentos e perspectivas alheias — o que os cientistas chamam de Teoria da Mente.

A amígdala, por sua vez, processa expressões emocionais e sinais de ameaça, enquanto os famosos neurônios-espelho nos permitem “refletir” a experiência do outro. É por isso que bocejos são contagiosos ou que sentimos desconforto ao ver alguém se machucar.

Há ainda a oxitocina, conhecida como o hormônio da confiança, que fortalece vínculos sociais e aumenta nossa disposição para cooperar.
📌 Exemplo prático: quando um líder demonstra empatia genuína, isso ativa áreas de recompensa no cérebro dos liderados, aumentando motivação e engajamento.
👉 Leitura recomendada: Social: Why Our Brains Are Wired to Connect, de Matthew Lieberman.
💬 O cérebro da comunicação
Comunicar não é apenas falar: é conectar cérebros. As áreas de Broca e Wernicke são responsáveis pela produção e compreensão da linguagem, mas a comunicação eficaz vai além das palavras. Sendo a área da Broca relacionada com a expressão da linguagem, enquanto a área de Wernicke se ocupa com a percepção, entendimento da linguagem.

Quando adicionamos emoção à mensagem, a amígdala entra em cena, reforçando a memória ao trabalhar junto com o hipocampo. Nesse caso, a amígdala participa do processo cognitivo por meio do processamento do significado emocional do estímulo externo para que as informações cheguem ao hipocampo salientando a memória do evento com conteúdo emocional. É por isso que histórias com carga emocional são muito mais fáceis de lembrar do que dados soltos.
Estudos com hyperscanning — técnica que mede a atividade cerebral de duas pessoas ao mesmo tempo — mostram que, em conversas envolventes, em que há colaboração mútua, há sincronia neural: os cérebros literalmente entram no mesmo ritmo. (Inclusive a sincronia neural é o tema da tese do meu mestrado, outro dia irei discutir os resultados aqui)
📌 Exemplo prático: uma apresentação que mistura dados com histórias pessoais e imagens atinge não apenas a lógica, mas também a emoção, gerando mais impacto.
👉 Leitura recomendada: Estudo sobre sincronia neural em comunicação.
🧠 Capacidade de comunicação

Apesar de ser uma máquina impressionante, o cérebro humano tem uma capacidade limitada de processamento, ele não consegue processar tudo que acontece ao mesmo tempo com uma máxima eficiência.
Os principais aspectos dessa limitação se dão devido:
1. A Atenção ser limitada: só se consegue focar em um número restrito de estímulos por vez (o que explica por que a multitarefa reduz o desempenho)
2. A Velocidade de processamento tem limites: o cérebro processa informações sensoriais rapidamente, mas há limites físicos e bioquímicos para a velocidade com que os neurônios disparam
3. Capacidade de Memória de Trabalho é restrita: este é um pequeno espaço mental que se manipula em tempo real, sendo então um espaço limitado
4. Fadiga mental existe: atividades cognitivamente exigentes causam cansaço cerebral e o esforço prolongado pode reduzir o desempenho
5. Filtragem da Informação: o cérebro filtra a maioria dos milhões de estímulos que recebe automaticamente através da atenção seletiva para que o indivíduo não entre em colapso com o excesso de dados
6. Ilusões Cognitivas e Vieses: o cérebro usa atalhos (heurísticas) para lidar com o mundo para reduzir o tempo de processamento. Mas isso pode gerar erros de julgamento e viés cognitivo
Existem muitos meios para se transmitir uma ideia, informação, visão, e por isso a comunicação tem que ser assertiva, clara e objetiva, favorecendo o entendimento mútuo, do emissor e do receptor.
Uma mesma narrativa pode gerar percepções e impactos diferentes nos receptores. Cada indivíduo adapta a narrativa de acordo com a sua realidade e suas vivências, por isso o emissor tem que prestar atenção aos seus receptores, além de como atrair e reter a atenção deles. CADA PESSOA É CAPAZ DE GERAR UMA EXPERIÊNCIA DIFERENTE DE UMA NARRATIVA.

🤝 Aplicações no dia a dia

A empatia e a comunicação têm efeitos práticos em todos os contextos:
No trabalho: praticar escuta ativa em reuniões reduz conflitos e melhora a colaboração.
Na educação: professores empáticos criam ambientes de aprendizado mais eficazes.
Na vida pessoal: validar emoções e observar sinais não verbais (como tom de voz e expressões) ajuda a evitar mal-entendidos.
📌 Exemplo prático: usar frases como “Se entendi bem, você está sentindo…” ativa áreas cerebrais associadas ao reconhecimento social, reforçando no outro a sensação de ser compreendido.
👉 Leitura recomendada: The Moral Molecule, de Paul Zak.
🌟 Conclusão

Empatia e comunicação não são dons misteriosos — são processos cerebrais que podem ser cultivados. Quanto mais entendemos como o cérebro constrói essas conexões, mais preparados estamos para fortalecer relações de confiança, colaboração e impacto positivo.
Afinal, compreender o outro é, antes de tudo, uma forma de nos compreendermos melhor.
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