O QUE SÃO NEUROTRANSMISSORES? O Alfabeto Químico do Cérebro
- Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
- Aug 26
- 5 min read

🧠 O que são neurotransmissores?
Quando pensamos em como o cérebro funciona, é comum imaginar uma rede de bilhões de neurônios disparando sinais elétricos. Mas, na verdade, essa rede não se comunica apenas com eletricidade. Entre um neurônio e outro existe um espaço microscópico — a fenda sináptica — e é ali que entra em ação um dos componentes mais fascinantes e fundamentais da neurociência: os neurotransmissores.
São eles os mensageiros químicos do sistema nervoso. Sem neurotransmissores, não haveria memória, aprendizado, emoções, movimentos ou até mesmo funções básicas como respirar e dormir.
🔬 O que são neurotransmissores

Do ponto de vista científico, neurotransmissores são substâncias químicas liberadas pelos neurônios para transmitir sinais a outros neurônios, músculos ou glândulas.
Essa descoberta transformou a neurociência no início do século XX, em especial após o famoso experimento de Otto Loewi, em 1921, quando demonstrou que sinais nervosos podiam ser transmitidos quimicamente — um marco que abriu caminho para a neurofarmacologia moderna.
Esses sinais nervosos químicos são os neurotransmissores. Um impulso nervoso químico que quando atinge o ponto pré-sináptico, as vesículas são conduzidas para a zona ativa e aí se fundem com a membrana do neurônio, sendo liberadas na fenda sináptica para, então, liberarem o neurotransmissor. Ufa! 😮💨 (vide imagem)

Atualmente, conhecemos aproximadamente de 100 a 120 neurotransmissores, porém esse número aumenta de maneira rápida de acordo que se faz novas descobertas. Eles são classificados de acordo com sua forma e função:
1. 🧠Neurotransmissores Clássicos: Tem moléculas relativamente pequenas, foram os primeiros a serem descobertos, e são os mais conhecidos e estudados. São exemplos: Acetilcolina, Dopamanina, Serotonina e Adrenalina.
2. 🧠Neuromoduladores e Peptídeos: Existem mais de 80 peptídeos já identificados como neurotransmissores ou neuromodulador, e essas tem um peso molecular grande. São exemplos: Endorfinas, Encefalinas, Substância P e Orexina.
3. 🧠Gases Neurotransmissores: Diferente dos outros neurotransmissores, os gases não precisam de receptores específicos – eles ativam enzimas intracelulares, o que os torna muito únicos. São exemplo: Óxido Nítrico (NO) e Monóxido de Carbono (CO).
4. 🧠Purinas e Outros: A descoberta de endocanabinoides revolucionou a neurociência, pois mostrou que o cérebro produz seus próprios “canabinoides naturais”. São exemplos: ATP e adenosina, Anandamida.
Em outras palavras: se os neurônios são fios de uma rede, os neurotransmissores são a linguagem que garante a comunicação.
Inicialmente, era pensado que cada neurônio liberava apenas um neurotransmissor por vez, porém com o avanço da investigação científica foi descoberto que pode haver a liberação de múltiplos neurotransmissores em uma única sinapse.
⚙️ Como funcionam
A comunicação acontece em uma estrutura chamada sinapse química:
O neurônio pré-sináptico recebe um impulso elétrico.
Vesículas cheias de neurotransmissores se fundem com a membrana e liberam seu conteúdo na fenda sináptica.
Essas moléculas atravessam o espaço microscópico (de 10nm ou mais transversalmente) e se ligam a receptores do neurônio pós-sináptico.
Essa ligação pode excitar ou inibir a atividade do próximo neurônio.
Assim, formam-se cadeias complexas de comunicação, que sustentam desde um simples reflexo até decisões complexas.
Excitatórios (como o glutamato) aumentam a chance de o próximo neurônio disparar.
Inibitórios (como o GABA) diminuem essa chance, regulando o equilíbrio da rede.
Esse equilíbrio é fundamental para a plasticidade sináptica, ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar, aprender e mudar, pois são os neurotransmissores que reforçam ou enfraquecem ligações entre os neurônios.
Nesse sistema, nenhum neurotransmissor atua sozinho, eles interagem para que o organismo esteja em equilíbrio. Um exemplo é a dopamina, serotonina e noradrenalina trabalhando juntos para regulação do humor. Aliás, cerca de 90% da serotonina é produzida no intestino e não no cérebro, então alterações na microbiota intestinal, podem sim, afetar o humor e ansiedade de um indivíduo.
Mas tanto a serotonina quanto os outros neurotransmissores, podem ter efeitos diferentes dependendo do receptor. Ao mesmo tempo que ele pode ser excitatório para um, pode agir como inibitório em outro. A Acetilcolina, por exemplo estimula os músculos, mas inibe o coração. Por isso o equilíbrio também na quantidade é tão necessário, já que o excesso pode ser tão prejudicial quanto a falta. Uma desregulação na dopamina pode causar efeitos psicóticos quando para mais, ou Parkinson para menos, já que a sua deficiência está associada a essa doença.
Contudo, os neurotransmissores agem cada um no seu tempo de devido para que se tenha o resultado esperado. Enquanto o GABA e glutamato agem em milissegundos, neurotransmissores neuromoduladores têm ação mais lenta e duradoura para regular estados emocionais e comportamentais. Mais que isso, atualmente há agentes farmacológicos, como os antidepressivos, que agem inibindo a recaptação do neuromodulador, para que aquele neurotransmissor se mantenha na fenda sináptica por mais tempo que o usual e o seu efeito se prolongue além do usual.
💡 Neurotransmissores e comportamento

Os neurotransmissores estão por trás de praticamente todas as experiências humanas.
Alguns exemplos:
🧪 Neurotransmissores clássicos (os mais estudados)
Acetilcolina (ACh) → memória, atenção, aprendizado, contração muscular.
Dopamina (DA) → recompensa, prazer, motivação, vício.
Serotonina (5-HT) → humor, sono, apetite, regulação emocional.
Noradrenalina (NA) → alerta, resposta ao estresse, foco.
Adrenalina (Epinefrina) → resposta rápida ao perigo (“luta ou fuga”).
Histamina → ciclo sono-vigília, resposta imune.
GABA (ácido gama-aminobutírico) → principal neurotransmissor inibitório do cérebro, calma, redução da ansiedade.
Glutamato → principal neurotransmissor excitador, ligado à memória e aprendizado.
Glicina → atua principalmente na medula espinhal, ajudando no controle motor.
🧪Neuromoduladores e peptídeos
Endorfinas e encefalinas → prazer, sensação de euforia e analgesia.
Substância P → transmissão da dor.
Neuropeptídeo Y → apetite, ansiedade e estresse.
Orexina → regulação do sono e da fome.
🧪Gases neurotransmissores
Óxido nítrico (NO) → vasodilatação, plasticidade sináptica.
Monóxido de carbono (CO) → modulação de sinalização neuronal.
🧪Purinas e outros
ATP e adenosina → sinalização celular, sono, energia.
Endocanabinoides (ex.: anandamida) → modulam prazer, dor e apetite.
É essa química que molda como sentimos, pensamos e agimos.
🩺 Neurotransmissores e saúde mental

Alterações na neurotransmissão estão ligadas a diversos transtornos neurológicos e psiquiátricos:
Depressão → associada a desequilíbrios na serotonina, dopamina e noradrenalina.
Ansiedade → ligada a falhas no GABA.
Esquizofrenia → alterações complexas envolvendo dopamina e glutamato.
Parkinson → degeneração de neurônios produtores de dopamina.
Alzheimer → perda de neurônios colinérgicos (acetilcolina).
Por isso, muitos medicamentos atuam justamente na regulação de neurotransmissores: antidepressivos, ansiolíticos, antipsicóticos e estimulantes agem para corrigir ou modular essas falhas químicas.
🌟 Conclusão

Neurotransmissores são a base da comunicação neural — o verdadeiro alfabeto químico do cérebro.
Entendê-los é compreender como pensamos, sentimos e agimos, além de abrir caminhos para novas terapias em saúde mental e neurológica.
Mais do que um detalhe técnico, eles são a chave para entender a ponte entre biologia e comportamento humano.
📚 Referências e leituras recomendadas
Kandel, E. R. Principles of Neural Science.
Bear, Connors & Paradiso. Neuroscience: Exploring the Brain.
Artigos em Nature Neuroscience e Neuron.
Nolte, John. Neurociência.
Cosenza, R.M. Fundamentos de Neuroanatomia.



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