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GERAÇÕES E O CÉREBRO: Como Pensamos Diferente

  • Writer: Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
    Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
  • Aug 19
  • 7 min read
Gerações e o Cérebro: Como Pensamos Diferente
Gerações e o Cérebro: Como Pensamos Diferente

🧠 Gerações e o Cérebro: como pensamos diferente


Vivemos em um mundo em que gerações convivem lado a lado — dos Baby Boomers aos Millennials, da Geração Z até a Alpha. Cada uma traz consigo formas distintas de pensar, aprender e se relacionar com o mundo. Mas será que o cérebro de cada geração realmente funciona de forma diferente?


A resposta está na neurociência: o cérebro humano é altamente plástico, ou seja, molda-se de acordo com as experiências e estímulos que recebe. Isso significa que, mais do que “nascer com um tipo de cérebro”, cada geração é moldada pelas condições culturais, tecnológicas e sociais de sua época.


🌍 O cérebro e o contexto cultural


O ambiente molda conexões
O ambiente molda conexões

A neuroplasticidade é que garante que o ambiente em que crescemos deixe marcas profundas nas conexões cerebrais. Experiências como forma de estudar, brincar, se comunicar e até de trabalhar impactam diretamente nas habilidades cognitivas.


Um exemplo claro é a influência da tecnologia: enquanto Baby Boomers foram formados por livros e interações presenciais, as gerações mais novas foram moldadas pelo imediatismo das redes sociais, vídeos curtos e multitarefa digital.


Esse fenômeno é estudado por áreas como a neurociência cultural e a neurociência social, que investigam como o ambiente, os hábitos e as interações coletivas moldam o funcionamento cerebral.


👥 Como o cérebro de cada geração foi treinado (e as tecnologias a sua disposição)


🔹 Baby Boomers (1946–1964)

Cresceram em um mundo analógico, com valorização da estabilidade, disciplina e aprendizado baseado em leitura e memorização. Seu cérebro foi treinado para foco prolongado e pensamento linear, menos influenciado por estímulos digitais.


Baby Boomers technology
Baby Boomers technology

Tecnologias disponíveis: rádios, criação do primeiro computador eletrônico (1946), as televisões começam a chegar aos lares das pessoas (1947), pager é lançado nos EUA (1956), colocado em órbita o primeiro satélite artificial (Sputinik 1 – 1957), lançada a primeira nave espacial tripulada por humanos (Vostok - 1961), fabricado, pela Xerox, o primeiro aparelho de fax a distância para a população em geral (1964).


🔹 Geração X (1965–1980)

Conhecida como a “ponte” entre o analógico e o digital. Desenvolveu adaptabilidade e habilidades de transição, sendo exposta tanto a longos períodos de atenção (livros, rádio, TV) quanto ao início das telas com a televisão e os primeiros protótipos de computadores.


Geração X - ponte para o digital
Geração X - ponte para o digital

Tencnologias disponíveis: lançado o primeiro satélite de comunicação para a transferência de dados eletrônicos (1965), a troca do primeiro e-mail da história entre duas universidades dos EUA (levou 1 hora para enviar a mensagem “lo” – 1969), lançado o considerado primeiro celular nos EUA (1977).


🔹 Millennials (1981–1996)

A primeira geração a “nascer” junto com a internet. Seus cérebros foram moldados pela multitarefa digital: alternar entre abas, mensagens, notificações e diferentes formatos de mídia. Esse estilo de vida aumentou a velocidade de processamento, mas também trouxe o alerta aos riscos de menor capacidade de atenção sustentada.


Millenials - Inserção no digital
Millenials - Inserção no digital

Tecnologias disponíveis: primeira viagem de um ônibus espacial (1981), lançado o primeiro navegador de hipertexto para a internet (1990 – só foi disponibilizado no ano seguinte), desenvolvido o primeiro transistor do tamanho de um átomo (1995), GPS declarado totalmente operacional (1995).  


🔹 Geração Z (1997–2010)

Nativos digitais por excelência. Expostos a smartphones desde o nascimento, redes sociais e vídeos curtos desde a infância, desenvolveram preferência pelo visual e pelo rápido processamento de informações. Tendem a apresentar menor paciência para textos longos e maior sensibilidade à dopamina gerada por curtidas e notificações.


Geração Z - Nascidos no digital
Geração Z - Nascidos no digital

Tecnologias disponíveis: lançamento dos primeiros DVD’s no Brasil (1998), a internet discada surge e cresce em velocidade impressionante no mundo (1999), os arquivos MP3 começam a ser usados e transmitidos pelas ondas da internet (1999), lançado o primeiro Pendrive no mundo (2000), lançado o primeiro IPod (2001), introdução do conceito de Smartphone no Brasil com o BlackBerry 850 (2002). Nasce a era das redes socais com a primeira rede social do mundo, o Orkut (2004), logo após veio o Facebook (2004), Google Maps (2005), YouTube (2005), Twitter (2006). Apple lança seu primeiro Iphone (2007), dando início a era dos Smartphones e o iPad (2010). Mas ainda em 2009 nasceu o maior app de trocas de mensagens do mundo, o WhatsApp.


🔹 Geração Alpha (2010+)

Ainda em desenvolvimento, mas já imersa em realidade aumentada, inteligência artificial e hiperconectividade. A expectativa é que tenham cérebros altamente treinados para integração multimídia, mas também desafios inéditos relacionados à atenção, convivência social e regulação emocional.


Geração Alpha - Nascidos com IA
Geração Alpha - Nascidos com IA

Tecnologias disponíveis: primeiros carros elétricos (2010), expansão da computação na nuvem (2010), surgimento das SmartTv’s (2010), início da expansão global da Netflix como streaming (2011), chegada do rover Curiosity em Marte (2012), lançamento do Google Drive (2012), lançamento do iPad Mini (2012), popularização dos bancos digitais - surgimento da Nubank (2013), lançamento do primeiro celular com impressão digital – iPhone 5S (2013). Expansão dos serviços de transporte por aplicativo, Uber, e de streaming de música, Spotify (2014), lançamento das assistentes pessoais com inteligência artificial - Echo da Google e Alexa da Amazon (2014), testes e protótipos de carros autônomos (2015), lançamento do Pokémon Go que popularizou a tecnologia de realidade aumentada (2016), aquisição pela Microsoft da primeira rede social direcionada para negócios, LinkedIn (2016), popularização da Internet das Coisas (IoT) com interconexão de dispositivos do cotidiano (2017), introdução dos chatbots (inteligência artificial) na linha de suporte das empresas (2018), expansão das redes 5G (2019), relógios com eletrocardiograma (2019). Transformação digital (2020) – crescimento da IA e Machine Learning para reconhecimento facial e análise preditiva (2021), avanços nas robóticas com robôs multifuncionais (2022), início da Era das Inteligências Artificiais que criam conteúdo com o lançamento do ChatGPT da OpenAI (2022), hiperautomação (2023), expansão do Metaverso (2024), biotecnologia avançada com lançamento de robôs para gerar bebês humanos (2025), neurochips para restabelecer atividades em paraplégicos, tetraplégicos (2025).       


🚨O problema da tecnologia para o cérebro


As estruturas cerebrais estão mudando
As estruturas cerebrais estão mudando

O cérebro é um órgão que precisa ser ativamente treinado. Ele não é um músculo, mas as sinapses só funcionam se tiver para o que trabalhar.


As conexões cerebrais são criadas com um propósito e toda ação delas resulta em uma reação, seja ela orgânica ou inorgânica. As orgânicas são aquelas inatas ao nosso controle, como mandar o coração bater, respirarmos, piscar, fazer a digestão, e assim vamos. Agora as inorgânicas são aquelas que temos controle, ou seja, aquelas que aprendemos e ensinamos o cérebro a fazer, como a ler, falar, desenhar, cozinhar, andar de bicicleta.


A tecnologia é um facilitador para que a aprendizagem seja de forma mais suave e sem tanta dificuldade, oferecendo as mais diversas ferramentas para que essas dificuldades sejam ultrapassadas sem muito esforço. Mas quando usada de forma irregular, soa o sinal de alerta!


Com a tecnologia permitindo tantas facilidades, a aprendizagem pelo conteúdo em si não tem mais sido o objetivo de muitas pessoas já que estes mesmos acreditam que sempre terão disponíveis junto a eles os seus dispositivos para lhes dar a ajuda quando necessário. E mais do que isso, a dependência do objeto fica cada vez mais forte.


Esse tipo de comportamento tem acarretado alterações na estrutura cerebral das novas gerações com uma diminuição do hipocampo e da amígdala, principais e importantes regiões para a memória e aprendizado, que tem diminuído de tamanho devido ao seu desuso. Essa alteração tem então levantado uma bola de neve que resulta na perda de paciência mais rápida, comparação social e dependência excessiva de dispositivos.


Com os dispositivos smarts a disposição mais facilmente, o uso excessivo de tecnologia também tem sido associado a problemas como falta de atenção – já que a pessoa não consegue se desligar do mundo social ou das várias telas; deficiências na inteligência emocional e social – o mundo sob o olhar das telas esconde o mundo de verdade que tem que lidar com frustações, emoções e situações sociais; paradoxo do sentimento de isolamento mesmo como aumento de conectividade.


Mas o maior perigo associado ao uso excessivo de tecnologia tem sido o alerta sobre o vício, uma vez que estar conectado as redes sociais pode criar um mundo imaginário na mente de crianças e adolescentes. Eles esquecem que o mundo ao redor deles não é instantâneo como na internet – existem caminho a se percorrer, propagandas e filas a se esperar -, e que aquele mundo não é real e que tem que se desligar dele – o que pode levar a comportamentos similares ao de abuso de substâncias.      


🧪 Neurociência por trás das diferenças


Principais áreas cerebrais envolvidas nessa mudança
Principais áreas cerebrais envolvidas nessa mudança

As principais áreas cerebrais envolvidas nessas mudanças são:


  • Córtex pré-frontal: responsável por planejamento, tomada de decisão e regulação emocional — mais exigido em ambientes digitais com excesso de estímulos.

  • Hipocampo: fundamental para memória e aprendizado, pode ser impactado tanto pela leitura prolongada quanto pelo excesso de informação fragmentada.

  • Amígdala: associada às emoções e ao processamento de ameaças, é diretamente estimulada pela pressão social das redes e pela comparação constante.

  • Sistema dopaminérgico: a busca por recompensas rápidas (curtidas, mensagens, notificações) reforça ciclos de dependência em cérebros mais jovens.


🤝 Pontos de convergência


As diferenças se complementam
As diferenças se complementam

Apesar das diferenças, todos os cérebros seguem os mesmos princípios universais: neuroplasticidade, capacidade de aprendizado ao longo da vida e a necessidade de conexão social.


Isso significa que não existe uma geração “melhor” do que a outra. O que existe são contextos distintos que moldam habilidades diferentes. E, quando reunimos essas forças — o foco dos Boomers, a adaptabilidade da Geração X, a criatividade dos Millennials, a rapidez da Geração Z e a inovação da Alpha — ampliamos o potencial coletivo.


🌟 Conclusão


O cérebro é humano, não da geração
O cérebro é humano, não da geração

O cérebro não é de uma geração — é humano. E o que nos une é mais forte do que o que nos separa: a capacidade de aprender, nos reinventar e criar juntos.


Na próxima vez que você pensar nas diferenças entre gerações, lembre-se: não se trata de quem pensa melhor, mas de como podemos aprender uns com os outros para construir um futuro mais criativo, colaborativo e equilibrado.







📚 Referências

  • Small, G., & Vorgan, G. (2008). iBrain: Surviving the Technological Alteration of the Modern Mind. HarperCollins.

  • Greenfield, P. M. (2014). Mind and Media: The Effects of Television, Video Games, and Computers. Routledge.

  • Prensky, M. (2001). Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, 9(5), 1-6.

  • Immordino-Yang, M. H., & Damasio, A. (2007). We feel, therefore we learn: The relevance of affective and social neuroscience to education. Mind, Brain, and Education, 1(1), 3-10.

  • Hoehe, M. R., & Thibaut, F. (2020). Going digital: how technology use may influence human brains and behavior
. Dialogues in Clinical Neuroscience22(2), 93–97. https://doi.org/10.31887/DCNS.2020.22.2/mhoehe

  • Small, G. W., et al. (2020) Brain health consequences o digital technology use.

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