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NEUROCIÊNCIA DA POLARIZAÇÃO: Como o Cérebro Reforça Divisões Políticas

  • Writer: Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
    Marcela Emilia Silva do Valle Pereira Ma Emilia
  • Sep 16
  • 7 min read

Updated: Sep 17

Um globo terrestre dividido ao meio com um lado roxo e outro verde. No centro um çerebro brilhante unindo as duas partes

🧠 Neurociência da Polarização: como o cérebro reforça divisões políticas

 

Você já reparou como o mundo parece mais dividido que nunca? No Brasil, o julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe tem apoiadores e opositores quase se pegando no grito. Nos EUA, o assassinato do ativista Charlie Kirk chocou e acirrou ânimos, enquanto o "tarifaço" de Trump ameaça milhares de empregos no mundo. Na França a troca de primeiro-ministro pela quinta vez com Macron, e no Nepal, protestos violentos derrubaram o governo por corrupção.

Sabia que o culpado disso tudo pode estar na sua cabeça? Mas calma, a neurociência explica como nosso cérebro nos empurra para essas divisões políticas – e como elas aparecem nas tensões de 2025. Vamos entender essa bagunça cerebral e ver por que escolhemos lados quase sem perceber!


🔬 O que é “polarização”

 

Dois cérebros estilizados frente a frente, soltando faíscas de tensão entre eles para demonstrar a repulsa mútua
Polarização em jogo

Linha fina: quando a identidade entra na jogada, o cérebro prioriza “quem somos” antes do “que é verdade”. Resultado: mais calor do que luz.

 

Sim, a política está fervendo em vários cantos do mundo, e, nesse cenário, vale separar mito de ciência: polarização não é só “discordar”; a é polarização é um fenômeno afetivo — passamos a desgostar do outro lado e a presumir intenções ruins, mesmo sem conseguir citar discordâncias gigantes. Esse efeito é robusto na literatura e conversa diretamente com a forma como o cérebro cria e protege identidades de grupo.

 

Polarização afetiva = enxergar o out-group como moralmente pior, menos confiável e “menos nós”. Isso se acopla à teoria da identidade social: quando o crachá do time liga, percepção, memória e julgamento passam pelo filtro da tribo. Traduzindo: quem disse pesa mais do que o que foi dito.


❓Intolerância à incerteza: o gatilho escondido


Um cérebro neon dividido em duas metades brilhantes de cores diferentes, com  meio nebuloso e confuso de símbolos e pontos de interrogação no centro, simbolizando a dificuldade do cérebro em lidar com a incerteza entre certezas opostas.
Incerteza entre certezas opostas

Não é só ideologia. Pessoas com maior intolerância à incerteza sincronizam mais a atividade cerebral com quem pensa igual e dessincronizam com o outro lado ao ver o mesmo debate. Mais sincronias “dentro” = narrativas mais parecidas = opiniões mais extremadas depois — dos dois lados.

 

A polarização crônica abre espaço para desumanização: não é só “não gostar”, é não atribuir mente ao outro. Estudos mostram hipoativação em mPFC (área da empatia) para out-groups extremos e assinaturas neurais distintas entre desagrado e desumanização flagrante — terreno fértil para justificar exclusão e agressão.

 

A alta confiança na própria posição altera o processamento pós-decisão: amplifica evidências a favor e abafa as contrárias (MEG/fMRI). Isso reduz mudanças de ideia mesmo com informação nova — o famoso “link bomb” não converte.

E não é só a incerteza que nos prende – nosso cérebro também reorganiza informações para proteger nossa identidade.


🧩 O cérebro partidário: identidade primeiro, fatos depois

 

Um cérebro usando óculos com lente roxa e verde, que filtram a realidade cinza e a transformam em uma versão colorida e tendenciosa
Os óculos "filtro"

Quando crenças políticas viram identidade, o processamento se reorganiza para manter a coerência com o grupo. Em estudos de neurociência cognitiva, vemos o chamado motivated reasoning: diante de contradições do “nosso” candidato, o cérebro aciona redes avaliativas/afetivas antes da análise fria — e racionaliza para proteger a tribo. Não é burrice; é autoproteção identitária.

 

Bem, o que isso quer dizer? Pensa assim: nosso cérebro é meio como um torcedor fanático. Ele adora pertencer a um grupo e defender o “time” com unhas e dentes. A neurociência chama isso de polarização – quando nossas emoções tomam o volante e a razão vai para o banco de trás. Estudos de 2025 mostram que, ao ouvirmos algo político, nosso cérebro libera dopamina (o “hormônio da felicidade”) se a notícia confirma o que já pensamos. Mas, se é contra nossas crenças? Aí vem o cortisol, o estresse, e a gente rejeita a ideia na hora.

 

Isso acontece porque o cérebro evoluiu para viver em tribos. Hoje, redes sociais como o X viram nossas “tribos digitais”, amplificando esse instinto. Um estudo recente usou exames de EEG para mostrar que liberais e conservadores processam palavras políticas de jeitos diferentes, já com a amígdala (parte do cérebro que lida com medo) entrando em ação de forma única para cada grupo. É como se nosso cérebro tivesse um filtro automático para “nós contra eles”.


🗣️ Linguagem moral + ameaça = acelera a divergência

 

Um cérebro humano cinza centralizado dentro de uma bolha translúcida de cor roxa, cercada por múltiplas informações roxas, repelido informações verdades, representando o viés confirmatório e uma câmara de eco
Viés confirmatório e a Câmara de eco

Assistindo ao mesmo conteúdo político, cérebros de liberais e conservadores mostram respostas neurais mais divergentes quando a mensagem usa linguagem moral-emocional e de risco/ameaça (com destaque para regiões como dmPFC ligadas à interpretação de narrativas). Em redes sociais, cada palavra moral-emocional num post aumenta em ~20% as chances de viralização — combustível perfeito para câmaras de eco.

 

Já ouviu falar de “viés confirmatório”? É quando o cérebro só dá bola pra informações que combinam com o que a gente já acredita. Neuroimagens de um estudo em 2025 mostram que, ao ler notícias políticas, ativa-se o núcleo accumbens (a área da recompensa) quando concordamos, mas “desligamos” o córtex cingulado, que detecta conflitos, se algo desafia nossas ideias. Resultado? Ignora-se os fatos que não curte.

 

No Brasil, isso explica por que o julgamento de Bolsonaro divide tanto: apoiadores veem um herói, enquanto opositores enxergam ameaça à democracia. O cérebro de cada lado reforça sua narrativa, como se fossem óculos coloridos. O nosso cérebro adora “provar” que estamos certos: No Nepal, manifestantes contra corrupção só leem sobre falhas do governo, enquanto apoiadores de Oli destacam “estabilidade”; e, na França, eleitores de Macron veem a troca de premiês como “estratégia”, mas críticos só enxergam “caos”.

 

Nesse meio todos são as vítimas, mas ninguém é o culpado. Aqui temos claro o quanto o ambiente molda o indivíduo socialmente para pertencer a um grupo. O quanto cada cérebro é individual e único, pois cada um recebe a mesma mensagem de forma diferente, mesmo o senso moral e de justiça sendo o mesmo.  

 

Na verdade, o que acontece é que a visão através do viés confirmatório reforça uma bolha sem ser percebida. Uma bolha que a qualquer momento pode estourar para algum lado. Às vezes, com uma ação inesperadamente desnecessária: O assassinato de Charlie Kirk, republicanos culpam “esquerdistas radicais”, enquanto democratas focam em “extremismo armado”; Protestos contra corrupção no Nepal, deixam 72 mortes em invasão ao parlamento. É a demonstração da “dor social” (processada no córtex cingulado) virando fúria coletiva.


✨Como Sair Dessa? A Neurociência Aponta o Caminho

 

Um cérebro no topo do farol, progetando um feixe de luz que atravessa e iluina uma parede de bolha, simbolizando a saída das "câmaras de eco"
O cérebro é o seu farol

A boa notícia? O cérebro pode ser “hackeado” para reduzir polarização. Estudos sugerem expor-se pouco a pouco a ideias opostas baixa o cortisol e ativa áreas de empatia, como o córtex pré-frontal.

 

Que tal tentar isso? Na próxima notícia que te irritar, pare e pergunte: “Por que tô sentindo isso?”. Pode ser o começo para sair da bolha.

 

  • Corrigir meta-percepções exageradas (“eles apoiam violência”) reduz apoio à violência partidária — efeito relevante, ainda que não resolva todos os problemas democráticos.

  • No-go: humilhar o outro em público, despejar links em tom combativo ou jogar o leitor na timeline adversária sem arquitetura de diálogo — em média, endurece identidades.


  • 🧭 Para levar (playbook de conversa difícil)

1.      Nomeie a identidade: “nós estamos discutindo times, não só fatos”.

2.      Baixe moral/ameaça no framing; descreva incertezas explicitamente.

3.      Cheque meta-percepções antes do mérito (“o que você acha que eles defendem?”).

4.      Use roteiro de escuta (10–12 min, perguntas abertas, exemplos pessoais).

5.      Encoste na confiança: quando a pessoa está 100% segura, a porta para o contraditório fecha — foque em curiosidade e “e se…”.

 

💓Conclusão

 

As tensões de 2025 – de Brasília a Katmandu – mostram que polarização não é só política, é cerebral.

 

Entender isso nos dá poder para dialogar melhor. Se a gente entender o cérebro, 2025 pode ser o ano de menos briga e mais conversa!

 

E você, já sentiu seu cérebro “escolhendo lado”? Conta nos comentários!

 




📚 Referências essenciais


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